Sunday, August 31, 2008


Despertando o Zénite

Normalmente não falo de temas que desconheço a outros que não aos seres do meu pensamento, mas este merece a tua atenção minha filha, que de longe suspiras por uma mensagem...
Sei que morreste há muitos anos, e que não deixaste pedra para rezar a tua memória... mas por vezes – tolo – gosto de acreditar que me ouves quando respiro sonolento, e me aproximo da morte a falar sozinho...
É para ti que falo nesses momentos, e também neste que te escrevo através do pensamento...
Desenhei no outro dia uma ilha mágica – sem nome, por enquanto – onde pensei construir uma casa para ti... um palácio de disparates e tropelias que me contavas na tua infância...
Muros de descobertas e sorrisos de alegria, protegendo caves tristes de quando tropeçavas ou esperavas sozinha alguém querido... Uma floresta de todos os animais fantásticos que imaginaste antes que se extinguissem no teu coração...
Girafas de oito patas que nadavam sobre lava efervescente, que saía das narinas de um dragão sem cauda; até bizarrias tais – com tais olhos, tais braços e apenas um fio de cabelo – que se existissem, desfaleceriam no segundo seguinte, por falta de estômago ou pulmões, que por pressa ou esquecimento, não lhes imaginaste...
Um céu que todos os dias pintavas de uma cor diferente, picotando estrelas a meio do dia, e sóis na escuridão da noite mais profunda... com trovões sem música, de onde choviam pequenas lágrimas de chuva, na maior das penumbras luminosas.
E como criavas banquetes, pratos cozinhados num pequeno forno, mas que alimentavam aldeias esfomeadas sem esforço, deixando dentes sempre brancos e brilhantes, e prontos a adormecer numa almofada de rosas de picos meigos e beijoqueiros...
Um parque perto do arco-iris, por onde escorregavas encontrando sempre o tesouro de um gnomo egoísta, antes deste – pela tua inteligência e bondade – se transformar num pónei de chocolate que nunca se derrete.
Para nunca te perderes, criei também um balão muito vermelho e azul como gostas, amigo de todos os ventos e brisas... chamando-os e acalmando-os como melhor te convir...
E foi neste mundo mágico... que acabei de criar, de pintar, de escrever, de esculpir, de pensar... que gostaria que vivesses para sempre...
Para tal, te envio com esta mensagem, a chave para nele poderes entrar... mas não te assustes, parece feita de papel, mas é feita de ferro, como as espadas dos valentes duendes que se digladiavam sem sangue ou dor no poço das caveiras liláses.

P.S.: Quase que me esquecia do mais importante... inscrito na chave, vão as palavras mágicas que tens de dizer para chamar aquele que te irá proteger de qualquer mal ou tristeza, o mais forte e carinhoso dos cavaleiros, e com o qual não irás casar... pois isso é uma parvoíce dos adultos...