Sunday, November 26, 2006

Na claridade do seu ledo reflexo, o pescador havia perdido por fim, esse breve e limitado desejo que habita em cada ser humano…: a unidade…
…Aceitando agora e eternamente… a Natureza a nascer de si…

Monday, November 20, 2006

Sintra II

Já lá em cima perguntei ao guardião
se queria que o rendesse, na manhã fria.
Orgulhoso e altaneiro disse-me que não,
pediu-me só que lhe fizesse companhia.
Sentei-me num colosso de basalto, calado
percebi que me olhava as feridas, pensava…
– O que há aqui de valor tão pesado,
Que vos faz subir de gatas e deixar as asas no caminho?
Sintra I

No caminho do anjo perdi as asas…
era estreito demais para ser alado
e confiei não precisar dessas farsas,
para subir a serra do passado.
Então prostrado gatinhei sangrando,
feridas que não me deixam esquecer;
todos os anjos voam e eu ando,
agrilhoado à pesada herança do meu ser

Thursday, November 16, 2006

Do humans work at solar power…?

Sunday, November 05, 2006

Pulo do Lobo – Terceiro Momento

Hipermetropia – Aqui… longe dos ouvidos do mundo… tu choras este teu lamento divino…: pobre sombra do profeta…
…Pobre senhor dos dias…
Pulo do Lobo – Segundo Momento

Ostracismo – O gigante acordando ao teu colo… Olhando o respirar… respirando o seco olhar do céu…
…Recordando o esmorecido de outrora: o inóspito…
Pulo do Lobo – Primeiro momento

Automimetismo – Mosaicos da tua plangente memória… da idade que a manhã me enche de beijos… do mundo interrompido por deus…
…Do teu mundo: triste mago…

Wednesday, September 20, 2006

Anteu
Anteu

… a injustiça de toda esta trama, o mesmo enredo que me fez criar ardilosas defesas empurrou-me para a derradeira armadilha da vida e neste penoso caminho que faz o sangue vir à boca, sou confrontado a cada passo com o desafio de conhecer o próximo…e o próximo…e o próximo…

Este pesado fardo de granito é o mais leve adereço de toda a cena… pesado é conhecer um destino ao qual não podemos fugir.
...

Anteu poderia facilmente erguer aquela grande pedra, se em vez de usar a força bruta dos braços os baixasse e usa-se o poder do seu grande coração… mas a cada momento nos reprimem a força dos sentimentos…

Wednesday, September 06, 2006


O que é a vida de um carvalho em pleno montado?
...
O que é a alma de um pastor de carvalhos, dispersos pelo montado?
...
Que homem é esse que tenta vestir a casaca de cortiça, cujos pés descalços se enterram no chão, que deixa o cabelo crescer, para um dia ser carvalho?
...
Que morte é a do homem que tentou viver como um carvalho?
...

Agradeço ao Luís Silva por ter tirado a fotografia no momento exacto em que por momentos fui um carvalho…

Sunday, August 20, 2006


Um biombo de pétalas de prata e ouro… tentando esconder o sol…

Wednesday, July 05, 2006


O gato que guardava as laranjas,
ronronando as ultimas horas de sol,
contemplava por entre as verdes franjas,
como me havia contado Lewis Carroll.

Desperto mas seguro, o gato tem no tento
ser dono do pomar, do chão e do tempo…


Ao meu grande amigo Silvestre (o gato da foto) que nunca mais voltou a casa desde o verão de 2003… onde quer que estejas, vejo-te forte e inteiro, gato rabicho que deu a cauda a um cão amigo.

Monday, July 03, 2006

Embaixador

Para quem – bem acima do mundo – toca a perfeição do niilismo… pode parecer estranho, o vislumbre de um confuso planalto de vidas imperfeitas e dependentes…:
…O Ruído…
Mas (sim o erro), por vezes… um ser desconhecido e perdido para os dois planos – tocando as suas fronteiras – pode ser esse ponto de possível entendimento e compreensão…

Que afaste pelo menos, o erro de não tentar…

Sunday, July 02, 2006


Um palácio construído pelos sonhos de um rei louco, que governava à distancia aquilo que ao perto é um reino torto… Mas na fortuna dos inocentes esse rei tinha uma conta, de inesgotável magica neblina, ludibriava os olhos das almas que de cá debaixo observavam espantadas, as cores e formas feitas de vontade, nas costas de um colosso de basalto adormecido… O palácio vive de memorias, dos tempos em que os reis loucos governavam e as ninfas eram as tesoureiras dessa magia que é o nevoeiro de Sintra.

Thursday, June 29, 2006


Entardecer… sob a forma de um menino, espreitando o presente dos tempos passados…

Sunday, June 18, 2006

Viagens do Fauno

Andava em viagem, perdido nos dias, e cabisbaixo, muito provavelmente influenciado pelos cinzentos Londrinos, os passos nasciam naturalmente mas em desalento, como quem lança à terra semente, sem esperança de rebento… não havendo indícios de melhorias, optei pela estratégia mais rebuscada e insisti nesse estilo de caminhada, até que em frente ao palácio de Buckingham, esperando um render da guarda que nunca chegou a render, encontrei uma família comprometida… ela e ele com coragem e cumplicidade me contaram apenas com sua pose, o segredo da união…


Eis que me vi no caminho de regresso intimidado com a lição, e já mergulhado nas cores quentes de Olissipo, a família do país cinzento revelou-se a mim… durante algum tempo andei como que iluminado, mas isso passou, e voltei a virar-me para o norte, em busca de tons frios e neutros.

Thursday, June 15, 2006

The Coin of Time

Ties that bind hope to will…
Wake me up with flawless skill.
Helped by songs of nature’s art…
I jumped, I rush, to meet my part…

The realm awaited, my eyes to see…
What lies within, what lies for me.
An inheritance lost inside a lock…
With no combination, or obvious key…

But the illusion was broken, lost by the dim…
And the cage did open, or at least so it seems…
For the truth which was spoken, was sad and grim…
“We live in holes, and cracks of dreams…”

Tuesday, June 13, 2006


O Herói tentou em pedra alcançar a imortalidade, e pouco depois seus restos derrotados eram exibidos em plintos num museu…
A batalha só tinha um fim possível, meu caro e nobre Guillgamesh, e tu eras o favorito de todos nós, apenas porque nos é mais fácil gostar da vitima que do tirano, mas aquele contra quem lutavas é o mais forte elemento, o que destrói tudo em silêncio como uma engrenagem insensível, criatura com um esgar de ironia. Os teus pedaços são agora admirados porque nunca tiveste a hipótese de ganhar a tua guerra.

Saturday, June 10, 2006

Juvenal de Ares – Cavaleiro Lusitano

Do herói se diz o habitual…:
Terá sido concebido antes de nascer, num ciclo irrepetível da nossa história… onde ano após ano, as crianças nasciam cegas, surdas e mudas, para que esta pudesse nascer perfeita em todos os sentidos…

Filho de Nereu – deus do Gelo e da Vida, e de Anísia – deusa do Vento e da Morte.

Futuro herdeiro do luar e chama, último espírito da pátria deste mundo estranho…

Mesmo assim, diz-se ter nascido já com uma pequena tosse… que por respeito à sua mãe, conservou com carinho para o resto da vida…

Friday, June 09, 2006

Cristais de dor moída, alimentam esta política do esquecimento…

Thursday, June 08, 2006


Monólogo irónico sobre o Tempo

Cenário: Uma longa janela de tijolos encerra um vetusto soberano na prisão que é a sua vida…

Coro:
Em dias de Helena e sua beleza, três mestres iniciaram a busca pelo propósito…
Após anos de procura, um dos mestres encontrou numa terra distante, o primeiro homem…
O mesmo mestre a que muitos chamam tempo… parou…
E parando como se andasse, pregou-lhe os tremores à pele… transformando o jovem em velho…

Muitos… todos os anos se passaram…

Velho:
Oh! Desgoverno…!
Pedi para não ser incomodado…
Quem se sente compelido a contrariar este simples desejo…?
(silêncio)
…Ah! Sois vós Cronos – Saturno da Idade de Ouro…
Perdoa-me… mas se mal te reconheço triste tempo, será mais por orgulho que por cegueira, caro amigo…
Fecha esse portão atrás de ti e entra, para que possamos conversar neste leito de todos os berços…
(silêncio)
Que honra oferecida a este simples mendigo… receber-te ainda em vida…
Como outros, dirás… mas onde estes te confundem por egoísmo com a morte, eu vejo o rosto dentro da máscara… a linha nas raízes de mármore…
(silêncio)
Muitos – tolos, seguramente – te dividem em segundos… agrilhoando-nos a milhares ou milhões de anos…
(silêncio)
Mas aproxima-te, senta-te – prezado apanágio do silêncio – pois com sorte, se conversarmos eternamente, alguém se esquecerá de virar a tua prisão …
Até nos perderem…
– Sou eu, disse ele…
Até nos confundirem…

Tuesday, June 06, 2006

Pingando secura/Ardendo teatros

Tentemos congelar o sentimento de sorte… para além do preto de todos os infinitos possíveis…
Tentemos agarrar aquele poema onde enfrentas raiva e medo, sem cota e armadura…
Tentemos desvendar aquele enigma de duas pulgas nascidas entre uma moeda…

Tentemos a arte…

Sunday, June 04, 2006


Sentir o cadafalso a abrir
mesmo por debaixo dos meus sonhos
e em seguida cair sem parar
nesse hiato ter tempo para reflectir,
perceber o muco que cobre as paredes deste poço
a matéria que ao longe luzia como ouro
é na realidade um ranho viscoso
foi assim que senti a universidade
como uma ruína adulterada.

Porque é que os mestres perderam o lustro?
Já não são os moveis poeirentos
de onde os tomos buscamos sem vaidade
substituíram essa boa mobília por uns arames
estruturas bamboleantes de um brilho tolo…
e eu perdi-lhes o respeito e tornei-me arrogante
de um tempo morto pela conivência
desta universidade só tirei a saudade
de uma falsa graça por conviniência.

Monday, May 15, 2006

“O homem que nunca viu um relâmpago partir-se em dois…”


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Tuesday, April 25, 2006


maniqueísmo, s. m. Doutrina de Mani ou Maniqueau, persa do século III; por extensão, toda a doutrina que admite um principio do bem (identificado com Deus) e um principio do mal, independentes um do outro e em luta um contra o outro

In Dicionário da Língua Portuguesa, 5ª edição, Porto Editora

Caminhar entre a luz e a escuridão, entre o bem e o mal, com a presunção de ser isento, e no meio poder ambos julgar…

Hoje festeja-se a conquista da liberdade, a revolução do animal oprimido… entristeço quando oiço a desilusão dos que travaram na primeira linha essa batalha, esmoreço ao ouvir os da minha idade a falar de “liberdade a mais…” como se tal fosse possível!? A Liberdade não se quantifica…ou é total ou é outra coisa qualquer… se calhar todas as gerações deveriam passar pelo aperto de viver sob um regime fascista para poder ganhar a liberdade lutando, para lhe dar o justo valor…

Conquistado um obstáculo, deveríamos dedicar-nos ao próximo e não permanecer vangloriando-nos sobre as vitorias… se para aprendermos uma lição, necessitamos de eternamente revê-la, então não estamos a aprender. O ponto em que se dá a evolução é o breve momento em que viramos mais uma pagina…



Não temos liberdade a mais camaradas!

Há anos ouvi um mestre meu afirmar-me que a revolução pela liberdade tinha sido conseguida, faltava agora a revolução pelo respeito… talvez seja esta nossa responsabilidade… Mas não menosprezemos aquilo que custou tantas vidas de luta e sofrimento…

Os tesouros devem ser estimados, e nunca esquecidos…


Sunday, April 23, 2006


Contrastes II de II

Outra silhueta negra
De mais um juiz dos deuses
Que anota cada divino acto
E pondera cada regra
Escrita nos raios que escapam
Por entre o nublado pacto.
Perante o eterno julgamento
A avaliação distingue o bardo,
que existe por um momento,
do imenso julgado

Saturday, April 22, 2006

Contrastes I de II

Personagem una com a sombra,
Atento à malha do mundo real,
Na sua fase homogénea encontra,
O sossego para um juízo leal,
Sobre o engalfinhado panorama;
raízes procurando luz como se fosse terra,
num enredo que se adensa qual trama,
intriga que na consciência se ferra…

Thursday, April 20, 2006


Escanibabi
Ou
Uma viagem em direcção à Importância

Capítulo I

“Embarque forçado”

Do interior da obscuridade, o rapaz acordou um pouco desorientado, agarrando-se com afinco a uma dor de cabeça atordoante que o fez inclinar levemente o torso para a esquerda.
Após a dor se disfarçar de pulsação natural, este examinou entre olhos franzidos o espaço que o rodeava com cuidado – todavia, não conseguindo reconhecer nada do que via no minúsculo recinto em que acordou.
Antes de se levantar, um leve bater na única porta deste pequeno cubículo tocou a sua atenção como instinto. Segundos depois, um outro mais forte se seguiu anexo a um papel introduzido no friso inferior da porta, ao qual o rapaz se inclinou para ler, mantendo essa mesma posição.
Era um envelope selado por uma companhia de comboios, com um menu de jantar no seu interior, com diversos pratos e bebidas sobre o qual se podia assinalar em pequenos rectângulos a escolha desejada. Nenhum dos pratos tinha preço, e no fim vinha assinalado a azul a hora do jantar como 20h45, o destino como carruagem 2, e o número 19 como número de passageiro.
Mesmo antes do óbvio se insinuar no seu cérebro, o pequeno espaço abanou algumas vezes para trás e para a frente, após uma forte batida para trás.
Imediatamente o jovem afastou a cortina de uma das janelas da área, abrindo-a em sobressalto para o que aparentava ser uma gare ferroviária. Estava sem dúvida no interior de um comboio, de uma carruagem que mais parecia um estúdio ou um pequeno quarto.
Precipitou-se inconscientemente para a porta – tentando perceber o que se passava, e porque não se lembrava de nada – mas esta encontrava-se fechada.
Olhou rapidamente à sua volta, tentando encontrar a chave, mas nada do que via aparentava qualquer parecença com tal objecto; espreitou também pelo buraco da fechadura, esperando que a chave estivesse colocada do outro lado, mas nada… por esta apenas se via um tecido avermelhado – talvez veludo – firmemente agarrado e esticado no que parecia ser a parede de um longo corredor.
Voltou então a depositar a sua atenção para o compartimento, de onde do seu centro sentiu um estranho conforto, como se tudo nele lhe fosse um pouco familiar.
O compartimento era pequeno, 4 metros por 7, decorado por sons e cheiros muito para além da obrigatória mobília impecavelmente arrumada e limpa destes ambientes.
À esquerda, uma cama rente ao chão com espaço para quase duas pessoas reduzia a área do quarto, de tal modo, que uma pequena mesa de convívio quase se via obrigada a esconder – por detrás de um banco de bar – envergonhada num canto perto da janela. A janela, essa, era larga… iluminando o espaço bem para lá da natural exposição da sua luz, tocando quase todos os objectos com igual imparcialidade.
À direita encontrava-se uma longuíssima estante de manuscritos e volumes antigos – estes muito familiares – que para além de atribuírem ao local um aspecto sensivelmente austero, também reflectiam a luz para uma escrivaninha de investigação cuidadosamente trabalhada pelo requinte. Uma cadeira de madeira rotativa completava esta parte do estúdio.
Um pouco mais para a esquerda, uma minúscula porta abria o espaço desta divisão para um outro cubículo rectangular onde se encontravam as respectivas instalações sanitárias, completas com lavatório e um chuveiro, opostos a uma ventana selada, ligeiramente mais pequena que a outra janela.
Confuso, o rapaz cessou a sua infrutífera pesquisa deste espaço, desiludido por não conseguir descobrir nada que se pudesse sequer confundir com uma pista.
Nesse momento, duas sirenes anunciaram estrondosamente o começo da marcha do comboio… primeiro suavemente e depois tocado pelo ímpeto do carvão misturado com a lenha…
Esse solavanco fez cair um livro da estante, que se abriu no chão… por triste ironia, evidenciando um capítulo de auto-ajuda denominado: Como aprender através da inércia – Impedir que essas ligações que tornam as perguntas, respostas e as respostas, perguntas - se formem…




Fotos
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação , Projecto de Manuel Tainha e Azulejos de Jorge Colaço



Um artista é e será sempre pobre… porque só os pobres se sentem incomodados ao ponto de criar novas formas de comunicar…aquela insatisfação do interior para com a envolvente…

Um artista pobre que pinta na rua… para vencer a miséria, trocando seus filhos pelos trocos que o levarão ao mesmo sitio no próximo dia, agarrado a esse propósito, que é tão nobre quão aquele do artista que rodeado de luxo se põem a pintar, a esculpir ou a escrever, tentando comunicar uma qualquer insatisfação, seja ela para com a injustiça social ou para com a inevitabilidade biológica do ser… do meu ponto de vista…ambos são da mesma qualidade… pelo que a destacar na nossa espécie, é a forma como em todas as situações, o Homem que se sente insatisfeito procura subir mais um degrau, mesmo quando nunca ninguém o fez antes dele, e perante o passo para o desconhecido, a tenacidade nos impulsiona para a garganta da criação do meio, do método, de uma nova descoberta…

…a nobreza está na vontade que cada um tem de se descobrir redescobrindo tudo o resto.

Wednesday, April 19, 2006

- …No words about this…?

- No… not a whisper… just a glance…

Tuesday, April 18, 2006


Firmamento
(Parte 1 de 6)


Pouco antes de adormecer, a cor do céu ficou sem brilho.
Perdeu sem motivo, aquela luz ao longe que resguarda em fé um suspiro no silêncio.
Ergui-me apressadamente, confuso e incerto do que se tinha passado.
Na certeza, procurei uma razão para tal metamorfose, que explicasse porque a paz deu lugar ao negrume – ensinado pelo antigamente das histórias pequenas.
Todavia, cedo apreendi, que tal por mim vislumbrado não carece de motivo para existir, e mesmo antes desta estranha hipnose consumir por fim este novo olhar, o céu tomou novamente a sua aurora prateada para me esgazear sem motivo aparente.
Desta vez não resisti à dúvida e aceitei o que se me apresentava como seguro – pois, guindando calmamente o mistério para lá da inquietação – observei sonâmbulo o céu a aproximar-se a pouco e pouco da terra – como se de uma metáfora poética se tratasse – mas sendo verdadeiramente a graça da realidade.
Esperei perplexo que este fenómeno – origem de génios que em cerros de teorias e discussões se eternizavam – a mim apenas pertencesse; honrando todos os outros com o olhar da manhã, suspenso no triste monte da Europa… mas tal caiu por terra, quando também por terra caíram dúzias de pequenos troncos colados entre folhas e ramos, cobrindo os telhados desta vila, de pomos e outras frutas proibidas…
Teria a música do vento arrastado uma chuva de frágeis pernadas dos longínquos vales litorais até esta vila dos remotos?
A dúvida tranquilizou-me mais que a resposta… mas nenhuma delas impediu o céu de se aproximar um pouco mais da minha consciência preocupada.
No dia seguinte, que para a maioria começou quatro horas depois da minha inexplicável descoberta, poucos se aperceberam deste fenómeno, tamanho o afazer que os preocupava em não levantarem os olhos dos seus propósitos de existência. Mas a pouco e pouco – como que um drama apressando o seu fim – alguns, aqui e ali, notaram algo de diferente na sua pequena cidade. As colheitas tão castamente zeladas pelo talento de homens simples, viram no súbito cair de regras e frutos verdes antes de época, uma resposta natural para o estranho fenómeno invisível à claridade.
Imediatamente, turbas de anciões da razão postularam novas éticas, jurando pelos há muito sepultados, que a Natureza tem destas coisas…
Que a culpa de tais erros extremava sobre os ombros da juventude, por ilusões de um futuro incorrectamente pernicioso – devassado por desejos de conquista e domínio – contrários à essência do temperamento.
Roucos timbres navegando pelo vagar, irromperam assim terríveis sátiras copuladas a esses seres vindouros – uma ode ao desperdício – daqueles que namoriscando a vida com normalidade, apenas procuram o ensejo da demanda…
Mas esses expirares de poemas – impermeáveis às críticas moucas da cobiça – não travaram o encolher do sol – procurando esse agora, pequenas fendas nas alturas, para irromper como luz matinal…
E não travou igualmente, o que agora se tornava claro e evidente para todos: que as árvores – parecendo cera – cresciam pelos céus, ganhando raízes onde outrora existiam troncos – e estas – educando o firmamento, inclinavam-no sobre a terra…

Cont.

Monday, April 17, 2006


Enigma de um homem monótono

O egoísmo de criar

1

Da poeira dos tremores se fez pele do pensamento
quando esse mito, frágil, da idade do horizonte –
aqui, longe da dor, e dos ouvidos do mundo –
se perdeu por entre a prata, no firmamento.


Cresceu erecto, sédulo e encantatório,
como as leis – cujo facho é a mão de deus;
mas do templo dos segredos, pilhou apenas uma máscara,
negra, sem alívios, do funeral dos ateus.


É coro, ou as verdades que se lhe colam,
É medo – grande colosso de madeira sobre o vértice,
É decisão, é testamento – fumo brilhante da ilusão,
É o acto de não ser…
E, não há covil que o não deseje.

Friday, April 14, 2006


Há lugares no mundo assim… onde as velhas pertencem ás ruas e as ruas são histórias calçadas por mil pedaços de pedra, como uma passadeira de miúdos retalhos que estreitam à medida que subimos…